*BLOG SOBRE ARTETERAPIA E EDUCAÇÃO*

SEBO ARILOQUE

SEBO ARILOQUE
Compre na Estante Virtual!
Mostrando postagens com marcador Museu. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Museu. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Infância, museu, história e realidade

Museu Paulista
“Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer
Mais vale o inútil do fazer”

(João Cabral de Melo Neto, no livro “Museu de tudo”, página 1)

Postado originalmente no site Cult Cultura em 20/08/2013.

Na minha infância, pelo menos uma vez por ano, meu pai levava a nossa família para o “Museu do Ipiranga”. Era sempre um evento de grande emoção, pois além do algodão doce colorido que era vendido nas imediações, novamente se renovava a chance de estar no que eu, ingênuo infante, imaginava ter sido a casa de D. Pedro I, magna figura heroica que nos fez livres de Portugal. Entrar no museu e deparar-se com o quadro gigantesco de Pedro Américo era a verdadeira dimensão das virtudes de um libertador da pátria, responsável definitivo por nossa busca de autonomia. Tamanha era a alegria de saber que tínhamos heróis e que num passado distante, o Tiradentes esquartejado e violentamente exposto em praça pública pela coroa portuguesa (imagem também de Pedro Américo, que ilustrava os livros didáticos e assustava qualquer um!) teve seu ideal concretizado. Enquanto sonhava em visitar a Torre Eiffel e a estátua da Liberdade, querendo dizer para crianças da França e dos EUA que também tínhamos grandes heróis e edificações, eu vivia o museu com a dimensão exata daquilo que ele dizia. Acreditava que tudo ali era vivo, fato este que me levou a segurar na mão de uma estátua de madeira de um escravo, cuja expressão, segundo meu pensamento, “pedia” um aperto de mão, o que me levou a dar um “oi”, imediatamente. Repreendido pelo segurança que ali estava e sofrendo discretos beliscões da minha mãe enquanto nos retirávamos e eu contorcia meu braço, me questionava qual o motivo de tal censura.

Passaram-se os anos, a criança cresce, o mundo se transforma e a visão também. As dúvidas permanecem e, mais do que isso crescem, se multiplicam e passam a povoar todas as situações do cotidiano. A historiografia brasileira teve grandes transformações, sendo seus heróis, um a um, alvos de inúmeras reconstruções e desconstruções. O bon vivant D. Pedro I, não é mais o mesmo, diante de pressões políticas, independências da America Latina, pressões internacionais e agonias vividas em Portugal no seu tempo. Tiradentes, o “bode expiatório”, também não é mais o mesmo. Talvez o ícone histórico mais devassado pelos historiadores, cuja trajetória de martírio e luta, além de alimentar os ideais nas mentes e corações durante décadas, teve um circuito histórico, turístico e cultural criado ao redor da sua aura. Como desmontar economias locais que significaram seu sentido sobre estes mitos? Delicado e complexo.

O “Museu do Ipiranga”, que passou a ser o Museu Paulista, hoje é um museu fechado. As previsões de reabertura são estimadas entre 2 e 8 anos, de acordo com o que, segundo alguns especialistas “pode ser feito” ou “seja prioridade”. Os gestores deste e de outros museus de suma importância, responsáveis por qualificar aqueles que serão os que “cuidam de museus”, não conseguiram mantê-lo em funcionamento, deixando claro mais uma das inconstâncias e incongruências que se espalham pelo Brasil afora, quando o assunto é reconhecimento e investimento para o gerenciamento e manutenção do patrimônio artístico, histórico e arquitetônico do país. Para concluir, em notícia do jornal Valor Econômico de 14 de agosto de 2013, Andrey Rosenthal Schlee, diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), declara que o órgão está prestes a falir por falta de efetivo e de investimentos.

Por Adriano Tardoque.

domingo, 5 de agosto de 2012

SOBRE O ACOLHIMENTO DO PÚBLICO EM MUSEUS - POR ADRIANO TARDOQUE

A capacidade de uma instituição em mediar harmoniosamente e simbioticamente o processo de significação/ressignificação entre patrimônio material/imaterial e o visitante (representado na diversidade dos atores sociais), por meio da sua estrutura física e humana, configura o acolhimento em museu.

Para que este acolhimento se processe de forma eficiente e construtiva, é prioritário que o museu, assumindo seu papel social, possa promover o que a professora Ana Mae de Morais chama de, “...  laboratórios de experimentação com a função de uma escola crítica e transformadora que questione os valores do próprio museu.” Nestes termos, a instituição abre-se para agregar manifestações, signos e valores do seu público, cumprindo o ideal de organismo vivo e em constante transformação.

A construção do ambiente físico de acolhimento, diz respeito à própria estrutura do museu, enquanto objeto. Comumente, pessoas humildes e simples não entram em museus por entender que estes, devido à grandiosidade da arquitetura que não os refletem ou pela imagem de um lugar elitizado que não lhes pertence, evitam até de passar pela porta de entrada das instituições. É necessário que as ações do museu estejam bem além das suas portas, entendendo o seu entorno como parte do seu interno. Buscar frequentemente a relação com a comunidade para que ela própria traga para dentro do museu aqueles que estão fora dele, estabelecendo uma relação que leve ao entendimento daquele espaço e ao mesmo tempo, apreendendo, assimilando e disseminando também o espaço comum deste visitante, é fundamental. Mas isso pode somente ocorrer quando a estrutura humana atua como mediadora.

Muitas vezes, em ocasiões diversas, alguns visitantes são impedidos de adentrar em museus (e os “deméritos” disso sempre recaem sobre os agentes de segurança), como ocorreu ha alguns anos em São Paulo, quando uma adolescente foi proibida de entrar em um museu, onde acontecia uma ação educativa com outras crianças e jovens de uma comunidade carente, pelo fato de estar com os pés descalços. A possibilidade de inserção e aprendizado em um espaço diferente do que lhe era de costume, junto com outros indivíduos que lhes eram comuns, foi extirpada. À sensibilização da importância da ação educativa, com sua proposta e objetivos, infelizmente, não passou por todos os envolvidos no processo, deixando as marcas de uma tradicional hierarquização. Evidentemente que as funções de um agente de segurança, uma recepcionista ou uma auxiliar de limpeza que trabalham em um museu, não são as mesmas que as de um curador, um museólogo, ou um educador. Mas é fundamental compreender que os papéis destes não estão abaixo dos papéis de qualquer um dos envolvidos, quando o foco principal está no público atendido. Quanto mais integrados e conscientes do processo existente entre o museu, seu acervo e seu público, melhores serão os resultados culturais e de cidadania, obtidos.

Objetivamente, todos os envolvidos com os trabalhos em museus podem contribuir significativamente com a dinâmica cotidiana da instituição. Os agentes de segurança, dispostos não como observadores contumazes de possíveis agressores, mas como pessoas atenciosas e dispostas a orientar tranquilamente o visitante para uma boa e segura visitação. A recepção pode bem mais do que entregar ingressos e dar informações pragmáticas, atentar ao anseio do visitante, orientando-o de forma cordial, ou mesmo respeitando aquele que não quer ser acompanhado, colocando-se atenta e a disposição deste. O mesmo ocorre com o educador, ao estar previamente atento ao público que circula pelo espaço, convidando as pessoas a participar do circuito monitorado, com linguagem adequada, colocando-se a disposição quando o visitante opta por caminhar sozinho, dando a este a certeza de sua presença e disposição, em caso de alguma informação.  É importante que curadores e museólogos, bem como a equipe técnica possam circular e colocar-se a disposição dos visitantes, sem distingui-los, tal qual os demais agentes citados anteriormente, podendo estes enriquecer e colaborar significativamente com o ambiente, tendo assim um retorno avaliativo direto da comunidade.


Imagem: http://corpo-sinalizante.blogspot.com.br/2008/11/o-projeto-aprender-para-ensinar-e.html