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quinta-feira, 26 de maio de 2011

ARTE E CIDADANIA: "FAZER" COM AS PRÓPRIAS MÃOS



Desde a Revolução Industrial Inglesa do século XVII aos tempos atuais, um dos principais problemas que vem se desenvolvendo ao longo dos últimos 400 anos é o do abandono do “fazer”. A cultura da produção de todo e qualquer tipo de produtos em larga escala, vem gradativamente, “tirando das mãos” do homem a capacidade do manuseio dos materiais com fins de criação, relegando esta tarefa às máquinas, que estão em frenético processo de transformação, sustentadas pelo avanço tecnológico. Paralelamente a este avanço, a sociedade trilhou seu caminho de adaptação a nova realidade da dinâmica econômica industrial que se espalhou pelo mundo, direcionando não somente seus sistemas sócio-políticos, mas o arcabouço sociocultural de diversas sociedades potencialmente diferentes, nesta direção. Desta forma, a educação, pilar fundamental para a formação dos indivíduos que constituem os membros condutores destas sociedades, adaptou-se a esta realidade e, na finalidade de atender o sistema, manteve o homem alinhado com a manutenção deste processo: ênfase no tecnicismo e valorização da educação voltada para os anseios do mercado.

O conceito de globalização, que propôs a integração econômica, política, social e cultural na chamada “aldeia global”, que uns entendem ter se iniciado na antiguidade com os impérios de Alexandre Magno, Romano ou Persa, passando pelos grandes descobrimentos na Idade Moderna e Imperialismo Europeu na Idade Contemporânea, foi retomado no inicio dos anos 90, impulsionado pela queda do muro de Berlim e a possível “vitória” do capitalismo, tendo como carro chefe o advento da internet (mais uma ressurreição tecnológica como “solução” para os anseios da humanidade). Ainda no começo desta década a sentença de Joseph Campbell de que “...a nossa tecnologia não vai nos salvar” (CAMPBELL; MOYERS, 1990, p. 9), apresentou um fator decisivo para a vida do homem que, ainda em constante apropriação e conhecimento das especificidades da própria cultura e identidade cultural, tivera que partir para uma concepção cultural geral do todo, embasada na junção de recortes referenciais de diversas origens, formando um ser fragmentário e repetidor, padrão este que persiste e se agrava, na adoção de uma cultura geral com base no consumo de produtos e serviços que “igualam” e a exotização da cultura local que “diferencia”.

A escola, que representa uma fração deste contexto (o que entendo como fração potencializada), cuja dificuldade de adaptação a sistemas educacionais que, mais do que formar técnicos, precisa formar pessoas humanizadas, criativas e atuantes, reflete potencialmente as fórmulas sociais. No Brasil, por exemplo, na escola pública, uma criança que, desde a educação infantil aprende a experimentar o mundo também pela arte, confeccionando e re-significando sua relação com o que assimilou, sobretudo pelos sentidos, aos poucos tem sua experiência empírica e sensorial reduzida à forma de expressão escrita, despotencializando seus possíveis talentos para algumas habilidades específicas (pintura, música, escultura, dentre outras), além de ter resumida na disciplina de educação artística, a partir dos 11 anos, na 5ª série ou 6o ano do Ensino Fundamental II, a  sua relação com o fazer. Este padrão persistirá assim até o 3o ano do Ensino Médio, com uma “colcha de retalhos” de técnicas esparsas e historia da arte. Um melhor poder aquisitivo de algumas famílias permite aulas de música, teatro, desenho, idiomas e afins, fora do ambiente escolar. Para os demais, sem acesso financeiro, restam os projetos sociais e culturais, cujas vagas ainda são mínimas em relação à demanda.

Desta forma, neste contexto apresentado, compreende-se a necessidade de uma nova abordagem do papel da arte no aprendizado do aluno, que se estenda qualitativamente por todo o período de sua formação escolar, desde a relação estabelecida com o material artístico, passando pela concepção do objeto, chegando à contemplação deste com a observação e a re-significação em suporte artístico, agregando assim, a construção de um novo significado como resultado. Assim se processa a construção de um conhecimento solidificado, adquirindo-se o capital cultural que permite a expansão da visão de mundo e uma atuação maior na autoconstrução cidadã. 

CAMPBELL, Joseph; MOYERS, Bill; FLOWERS, Betty Sue (org). O Poder do Mito, São Paulo: Palas Atena, 1990.

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